quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Testando

Ontem de manhã deixei um cotonete estrategicamente posicionado na pia para que de noite, quando eu voltasse, pudesse olhar para ele de novo. Um jeito meu de me lembrar que o tempo passa.

Passou, voltei e ele estava lá, do jeito que deixei. Exatamente igual. Estátua.

Um perigo isso. Hoje vou testar com uma maçã.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

2 minutos e 1 fora

Não lembro quantos anos eu tinha, era moleca. Andava de bicicleta na rua e ia parando para conversar com alguém aqui, alguém lá. Sentava na calçada e passava o dia todo batendo papo, dando risada, sujando a roupa. Era época de trocar prioridades: ser a cestinha do time de basquete ou deixar a unha crescer? Demorei pra largar o visual camiseta e bermuda de cotton, mas já tinha jogado a franja para o lado. E já olhava no espelho mais do que 2 vezes por dia.

E justo naquele, deveriam ter sido umas 4. Saí com a bicicleta e a franja para o lado que nunca parava por causa do vento. No começo da rua tinha a Dani e, no final, o tal Alê. Cara de irmão mais velho. Metidinho, achei que me olhava demais. Que olhasse, eu não queria nada. Sentei na metadinha do banco, apoiei os braços no guidão e devolvi a encarada. Só por devolver. Só para abusar. Cerrei os olhos e segurei o ar irresistível de capa de revista. Levou uns 2 minutos até que ele parasse a conversa com a Dani e falasse comigo: “Por que você fica assim, quase fechando o olho e franzindo a testa? Fica tão feinha."

Crescer é cruelmente engraçado.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Rita.

Passei a infância toda dividindo o quarto com a minha irmã. O que criou zilhões de lembranças que, de tempo em tempo, se pirulitam na minha memória. E uma delas é a Rita.
Rita era uma pomba que aparecia todos os dias no parapeito da nossa janela. O que para qualquer um seria uma mera pomba pousando por perto, para a gente era a visita diária da Rita.
Mas nem todo mundo em casa tinha pela Rita a mesma afeição que a gente tinha. Cada vez que ela aparecia na janela, o cachorro latia estridente e os papagaios gritavam todos os palavrões que conheciam. O que fazia minha mãe aparecer na cozinha e espantar a injustiçada Rita com a vassoura: “Ssshhhhhh! Shhhh! Passa!”. Todo santo dia.
Desde aquela época, Rita virou sinônimo de categoria para mim e para minha irmã. Qualquer pomba passou a se chamar Rita. Tinha uma Rita no meio da praça. Uma Rita deu um rasante na minha cabeça. As Ritas premiaram o carro que eu acabei de lavar e por aí vai.
Agorinha, por exemplo, uma Rita cruza o salão de espera na rodoviária. Ousada até. Vai passeando entre as pernas e maletas do povo sentado, pegando uma migalha aqui e outra lá, no máximo dando uma corridinha quando um pé chega mais perto do que o esperado.
O mais esquisito não é a desenvoltura da Rita, mas o fato de as pessoas nem darem bola pra ela. Nem um “Xô”. Nem um olhar enojadinho. Agora que a Rita resolveu voar, foi só porque não tinha mais o que comer aqui embaixo. Ou para encontrar a outra Rita no telhado e ficar lá de cima confabulando um ataque cirúrgico às nossas cabeças.
Se eu fosse um pouco menos maluca, a essa altura não estaria quase acreditando que aquela Rita era a nossa Rita.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Sobra

Tão pouco tempo. Tão poucas pessoas. Tão poucos motivos. Tão pouca surpresa. Tão poucos cheiros. Tão poucas fotos. Tão poucos doces. Tão pouco espaço. Tão poucas letras. Tão pouca música. Tão pouco pink. Tão poucos pés. Tão pouco ar. Tão pouco silêncio. Tão pouco sol. Tão pouco sou. Tão pouco sono. Tanta vontade.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Seu moço velho também quase levantando

Pelo jeito minha sina é encontrar pessoas em transportes públicos que estão quase descendo, mas não descem. Depois da Dona Japonesa, agora o Seu Moço Velho – e fedido, coitado. O ponto devia estar chegando, mas continuou chegando por muito tempo e ele lá: corpo torto, um pé à frente, exalando pelo ônibus a sua expectativa de descer.
Claro que ele poderia só estar passeando. Ou quem sabe fazendo aquilo que eu já pensei tantas vezes em fazer, que é pegar um ônibus qualquer, descer em um ponto qualquer, pegar outro ônibus qualquer e assim por diante, só para ver onde vai parar. Mas o que não ornava é que ele parecia realmente concentrado em não perder o ponto, que passou mais de 20 minutos sem chegar. Tempo suficiente para eu exercer minha velha mania de adivinhar a vida curiosa de pessoas estranhas.
Por que ele pegou o ônibus? Porque decidiu aparecer de surpresa na casa do filho que não o visitava há mais de 6 anos. Desde a vez em que ele anunciou que só tomaria banho 2 vezes por mês. Já não tinha mais a velha, já não trabalhava, vivia sozinho. Banho para quem? Estava bem assim. A barba crescia e mal deixava a sujeira passar. Estava ótimo assim. Mas o filho, que nunca entendeu nada da vida, resolveu cortar relações. Pau mandado da garota que se maquiava todo dia, só podia ser. Queria ver a cara deles quando chegasse. E já estava quase lá. Era o próximo. Vai devagar, motorista. É esse aqui, logo ali. Só mais um bocado. Agora sim, está pertinho. Depois daquela árvore. Depois daquela esquina. Depois daquela casa. Será que já passou?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Click. Click de novo.

Acho que entendi de uma vez por todas porque eu gosto tanto de fotos: tem a ver com o fato de a minha memória ser péssima. Quando eu registro, vejo de novo. E quando vejo de novo, tenho o sentimento mais uma vez. O que, claro, pode ser bom ou ruim, mas sempre vai ser melhor do que um mero “nada”.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Hum.

Me ocorre que: ser sempre igual cansa mais que mudar todo santo dia.