Pelo jeito minha sina é encontrar pessoas em transportes públicos que estão quase descendo, mas não descem. Depois da Dona Japonesa, agora o Seu Moço Velho – e fedido, coitado. O ponto devia estar chegando, mas continuou chegando por muito tempo e ele lá: corpo torto, um pé à frente, exalando pelo ônibus a sua expectativa de descer.
Claro que ele poderia só estar passeando. Ou quem sabe fazendo aquilo que eu já pensei tantas vezes em fazer, que é pegar um ônibus qualquer, descer em um ponto qualquer, pegar outro ônibus qualquer e assim por diante, só para ver onde vai parar. Mas o que não ornava é que ele parecia realmente concentrado em não perder o ponto, que passou mais de 20 minutos sem chegar. Tempo suficiente para eu exercer minha velha mania de adivinhar a vida curiosa de pessoas estranhas.
Por que ele pegou o ônibus? Porque decidiu aparecer de surpresa na casa do filho que não o visitava há mais de 6 anos. Desde a vez em que ele anunciou que só tomaria banho 2 vezes por mês. Já não tinha mais a velha, já não trabalhava, vivia sozinho. Banho para quem? Estava bem assim. A barba crescia e mal deixava a sujeira passar. Estava ótimo assim. Mas o filho, que nunca entendeu nada da vida, resolveu cortar relações. Pau mandado da garota que se maquiava todo dia, só podia ser. Queria ver a cara deles quando chegasse. E já estava quase lá. Era o próximo. Vai devagar, motorista. É esse aqui, logo ali. Só mais um bocado. Agora sim, está pertinho. Depois daquela árvore. Depois daquela esquina. Depois daquela casa. Será que já passou?
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