Aquele dia saí de casa e peguei os dois últimos minutos de sol. Depois escureceu, o trânsito empacou e, enquanto pensava em como seria o dia seguinte, me veio a lembrança do meu primeiríssimo emprego.
Não tenho certeza se não sabia ou se não acreditava que pudesse ser difícil, então simplesmente peguei a lista telefônica (!!), anotei o número de todas as agências que encontrei e liguei, uma por uma:
- XYZ Propaganda.
- Bom dia, você pode me transferir para o departamento de criação?
- Quem gostaria?
- Karina Lemes.
(tuuu).
- Fulano.
- Oi, Fulano. Meu nome é Karina, tudo bem? É que eu acabei de entrar na faculdade e quero muito ser redatora. Vocês têm vaga para estagiária?
Risos. Gaguejos. Grosseria. Não categóricos. Linhas “cortadas”. Até que, horas depois, alguém resolveu mudar a história daquela tarde:
- Karina, pela sua cara de pau, eu queria muito te conhecer. Você pode vir aqui amanhã?
Achei engraçado, mas ainda não fazia idéia da singularidade daquela entrevista. Para mim parecia normal uma pessoa receber a outra simplesmente porque ela está disposta a trabalhar bem. Então fui, feliz, ver o que era uma agência de propaganda. Não tinha portfolio, mas levei minhas melhores redações da escola e um punhado de anúncios da Veja, dentro de uma pastinha. O moço educado, que se chamava Wagner e era diretor de criação, me recebeu e sentamos numa sala grande. Lembro bem do brilho nos olhos dele enquanto eu disparava tudo que pensava sobre aqueles anúncios, sobre algumas propagandas de TV, sobre o que imaginava ser a profissão, seus prós e contras. Combinamos que eu poderia começar no dia seguinte. Agradeci e ele agradeceu muito mais, em resposta:
- O prazer vai ser nosso em ter você por aqui.
O estágio durou 3 meses. Depois veio outra agência, e mais uma, e outra, mais outra e agora essa. De lá para cá, o frio na espinha aumentou, a cara de pau diminuiu, mas tudo continua dando certo.
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