terça-feira, 24 de maio de 2011
My own little Miss Sunshine
A primeira lágrima caiu por corujice, reconheço. Assim que a música começou e as perninhas gordinhas apareceram no palco, eu já amoleci a respiração e me encostei na cadeira, assumindo sem vergonha o meu papel de tia bobalhona. Chorei mesmo. Deixei as lágrimas escorrerem pelo rosto, a voz engasgar, o nariz avermelhar e tudo mais que eu tinha direito.
Não foi só a roupinha, o cabelinho, o jeitinho, nenhum outro “inho” o que mais me comoveu. Pisar no palco é sempre uma responsabilidade – e ver a sua sobrinha de 4 anos fazendo isso pela primeira vez na vida é uma delícia. Mas, muito antes da apresentação começar, o melhor do show já tinha acontecido para mim.
Foi na porta do teatro. Enquanto todas as outras crianças posavam para fotos, em meio a um mar de flashes brancos e sorrisos amarelos, a minha pequena corria, pulava e girava sozinha, driblando qualquer câmera que aparecesse na frente. Era um pequeno tornado dançando pelos ares, abrindo seu próprio caminho, criando seu próprio mundo. Feliz, verdadeira, leve.
Eu achei aquilo tão lindinho e espalhafatoso que deixei minha câmera de lado e fiquei ali onde estava. Não fazia mal não registrar a cena, o mais gostoso daquilo tudo nem cabia em pixels mesmo. Era mágico, intenso, real e só tinha 4 anos.
Meses mais tarde, descobri que a Juju saiu do ballet. Do nada, em um dia como qualquer outro. Resolveu sozinha e comunicou pais, professores e interessados, com a certeza de um adulto bem-resolvido e a simplicidade que só as crianças têm.
Quase fiquei triste por saber que não veria mais aquelas perninhas gordinhas no palco. Quase. Mas no fim, fiquei aliviada. Se a primeira – e talvez última – apresentação da Juju tinha sido tão especial, foi porque ela viveu o momento que quis, de um jeito só seu. Foi pura vontade dela e seria muito diferente se fosse a de outra pessoa.
Que delícia saber que não querer é não fazer. No fundo, é simples assim, sim. A gente acaba esquecendo quando passa muito tempo posando para a lente dos outros. Mas, se depender de mim, a Juju nunca vai esquecer duas coisas: que a vida é mais legal para quem faz o que gosta e que a gente pode mudar o passo sempre que quiser. Mesmo no meio da música.
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