Eu não diria que sou uma pessoa complexa, mas meus melhores amigos discordariam. Diriam que até tentando ser simples eu costumo ser complicada, o que até pode ser verdade. Para mim, as coisas não são lineares, proporcionais, racionais ou exatas. Entendo matemática, mas não raciocino com números. Mal me conformo com eles, são muito impessoais. Prefiro uma cor, uma palavra, um som, uma impressão, uma sensação. Aliás, guardo sensações, mas não guardo números.
Acontece que todo dia descubro situações em que eu gostaria, sim, de ser mais simplista. Como aquela vez boba: era segunda e eu tinha que trabalhar. Mas tinha chorado na noite anterior e, quando isso acontece, fico bem parecida com um sapo. Então foi creme, compressa, água quente, água fria e nada. Desisti, mas praguejei. No elevador, o Fá me lavou com seu único comentário: - Não sei porque não pode parecer que chorou se você chorou mesmo.
Glup.
Para mim, foi a revelação. Passei o dia todo com aquela urgência de simplificar tudo: os dias, as pessoas, a vida. Depois a ansiedade passou, mas a sensação continuou lá, para ressurgir cada vez que eu me lembrasse dela. Como hoje.